Atendendo a pedidos de alguns alunos, seguem algumas informações de como lidar com o suicídio.
Alguns dados informativos:
O comportamento suicida vem ganhando impulso em termos numéricos e, principalmente, de impacto, como podemos ver pelos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS):
• O número de mortes por suicídio, em termos globais, para o ano de 2003 girou em torno de 900 mil pessoas.
• Na faixa etária entre 15 e 35 anos, o suicídio está entre as três maiores causas de morte.
• Nos últimos 45 anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos).
• Em indivíduos entre 15 e 44 anos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação.
• Para cada suicídio há, em média, 5 ou 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem conseqüências emocionais, sociais e econômicas.
• 1,4% do ônus global ocasionado por doenças no ano 2002 foi devido a tentativas de suicídio, e estima-se que chegará a 2,4% em 2020.
Fatores de Risco:
• transtornos mentais
• sociodemográficos
• psicológicos
• condições clínicas incapacitantes
Características particulares que indicam risco de suicídio:
1. Ambivalência: é atitude interna característica das pessoas que pensam em ou que tentam o suicídio. Quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver. O predomínio do desejo de vida sobre o desejo de morte é o fator que possibilita a prevenção do suicídio. Muitas pessoas em risco de suicídio estão com problemas em suas vidas e ficam nesta luta interna entre os desejos de viver e de acabar com a dor psíquica. Se for dado apoio emocional e o desejo de viver aumentar, o risco de suicídio diminuirá.
2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um ato impulsivo. Como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas. Normalmente, é desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia. Acalmando tal crise e ganhando tempo, o profissional da saúde pode ajudar a diminuir o risco suicida.
3. Rigidez/constrição: o estado cognitivo de quem apresenta comportamento suicida é, geralmente, de constrição. A consciência da pessoa passa a funcionar de forma dicotômica: tudo ou nada. Os pensamentos, os sentimentos e as ações estão constritos, quer dizer, constantemente pensam sobre suicídio como única solução e não são capazes de perceber outras maneiras de sair do problema. Pensam de forma rígida e drástica: “O único caminho é a morte”; “Não há mais nada o que fazer”; “A única coisa que poderia fazer era me matar”. Análoga a esta condição é a “visão em túnel”, que representa o estreitamento das opções disponíveis de muitos indivíduos em vias de se matar.
Frases de alerta
• “Eu preferia estar morto”.
• “Eu não posso fazer nada”.
• “Eu não agüento mais”.
• “Eu sou um perdedor e um peso pros outros”.
• “Os outros vão ser mais felizes sem mim”.
Sentimentos 4D
• DEPRESSÃO
• DESESPERANÇA
• DESAMPARO
• DESESPERO
Idéias sobre suicídio que levam ao erro:
• “Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir o paciente a isso.” – Questionar sobre idéias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente acolhido por um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu sofrimento. • “Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular.” – A ameaça de suicídio sempre deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda.
• “Quem quer se matar, se mata mesmo.” – Essa idéia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou ao descuido no manejo das pessoas sob risco. Não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que podem ser evitados.
• “Quem quer se matar não avisa.” – Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam haviam comunicado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.
• “O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)”. – O que dirige a ação auto-inflingida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem.
• “No lugar dele, eu também me mataria.” – Há sempre o risco de o profissional identificar-se profundamente com aspectos de desamparo, depressão e desesperança de seus pacientes, sentindo-se impotente para a tarefa assistencial. Há também o perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo para decidir as ações que fará ou deixará de fazer.
Como ajudar?
1. O primeiro passo é achar um lugar adequado, onde uma conversa tranqüila possa ser mantida com privacidade razoável.
2. O próximo passo é reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida usualmente necessitam de mais tempo para deixar de se achar um fardo. É preciso também estar disponível emocionalmente para lhes dar atenção.
3. A tarefa mais importante é ouvi-las efetivamente. Conseguir esse contato e ouvir é por si só o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida.
Lembrando que não devemos reduzir a pessoa a uma história vivida no passado, pois isso faz com que ela perca o seu futuro, que é formado por inúmeras possibilidades!
Como se comunicar:
• Ouvir atentamente, com calma.
• Entender os sentimentos da pessoa (empatia).
• Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito.
• Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa.
• Conversar honestamente e com autenticidade.
• Mostrar sua preocupação, seu cuidado e sua afeição.
• Focalizar nos sentimentos da pessoa.
Como não se comunicar:
• Interromper muito freqüentemente.
• Ficar chocado ou muito emocionado.
• Dizer que você está ocupado.
• Fazer o problema parecer trivial.
• Tratar o paciente de uma maneira que possa colocá-lo
numa posição de inferioridade.
• Dizer simplesmente que tudo vai ficar bem.
• Fazer perguntas indiscretas.
• Emitir julgamentos (certo x errado), tentar doutrina.
Para maiores informações: leia o “Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental – Prevenção do Suicídio”
Marcela Jacob
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