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Reflexão Fenomenológica – Ser o Preto, Nada, Vazio, Vazio Estéril, eu…


Agora eu gostaria de entrar neste preto. Este é o seu nada, o seu vazio, o vazio estéril. Como você se sente estando no nada?

(Trecho de um livro: Sonho de Jean)


“Preto, Nada, Vazio, Vazio Estéril, eu…”

(Trecho da Reflexão de Marcela Jacob)


            A reflexão inicia com dificuldades apesar de eu ter começado com a intenção de entrar na vida do objeto: dificuldades em ser o objeto. Senti que para ser o objeto devia deixar de ser o que sou. Como estava ficando muito difícil, percebi que era para falar do meu jeito, que era realmente isso que era o trabalho, ser quem sou e passar isso por intermédio de um objeto. Foi então que deslanchei na reflexão e não consegui parar, até este momento, não estou com ela acabada, mas espero que não prolongue muito mais.

Eu tinha resolvido escrever o meu início já substituindo as partes que eu não havia ainda me incorporado no objeto, mas decidi escrever como está, porque é bem no começo, e há trechos claros que mostram a minha vivência.

Outra nota antes da descrição: eu já havia falado com um dos monitores que eu queria fazer outro objeto, que não estava em nenhum dos sonhos (estante de livros); só que ao fazer este trabalho percebi que não importa o objeto que eu escolha, a descrição será sempre muito parecida, pois eu que falarei sobre mim, não importando o meio. Sempre será a “Marcelisse” do objeto. E adorei a facilidade de me descobrir por meio desta,  chegando a várias awareness…

Sigo com minha reflexão:

Eu sou o preto, o lugar onde as pessoas não enxergam, onde elas se perdem, onde elas enlouquecem. Sou triste por ser preto; eu sou plena, completamente preto, não possuo nada mais. A mesma imensidão que possuo é a imensidão que desejo. Eu sou tudo e ao mesmo tempo sou o nada.

Lugar onde as pessoas não enxergam? Por que não enxergam? Eu cubro todas as pessoas com a minha imensidão, impedindo que elas se comuniquem entre si, e isso me incomoda.

Por que as pessoas se perdem em mim? Como a minha imensidão preto é infinita, não consigo achar as pessoas em mim, elas se perdem. Então, ao mesmo tempo que as pessoas não conseguem se relacionar, eu também não consigo.

O incômodo que sinto por ser assim, é o não poder tocar e ao mesmo tempo eu encubro elas totalmente com a minha imensidão. Como eu encubro? As pessoas vêm até mim, me procuram e de repente elas já estão inseridas em mim, fazendo parte da minha imensidão, mas dentro dessas pessoas eu não estou.

Ser vazio me incomoda e preocupa. Qual a razão de ser imensa e não ter nada para oferecer? Eu não gosto de ser assim. Quero ter conteúdo, ou melhor, o preto (eu) é conteúdo, mas eu quero mudá-lo, transformá-lo (me transformar). Tenho desejo da imensidão, mas me atrapalha ser imensa e não poder compartilhar com ninguém.

Ser um nada no todo.

Não consigo enxergar a vida em mim, sendo desse jeito, por isso quero mudar! Ser quem eu sou e não ser ninguém para os outros; ou ser tudo para os outros e achar que não sou o suficiente para eles. Está vendo? Sempre esqueço de pensar em mim!!! Isso me intriga!

Me procurar no meu interior, numa busca incansável e não achar nada; apesar de às vezes, achar tudo.

Desejo incrível de transformação, mas medo e dúvidas de que se com essa transformação serei feliz, ou ela vai adiantar em algo? Medo de lidar com mudanças. Mudanças sempre inclui perdas e ganhos. Como lidar? Ganhei muitas coisas – amigos, conhecimento –, mas o que fazer com o velho que está escondido agora? Não quero perdê-lo; quero transformá-lo. Mas, como? Na verdade, eu já o perdi, mas não quero me dar conta… Não gosto de tentar me enganar, nunca achei que o meu mundo fosse melhor se fizesse isso, pelo contrário.

Mundo duvidoso (escuro) e fascinante (claro) perante meus horizontes.

Eu sou o vazio em busca da imensidão do meu preto.

Eu sou o nada que quer buscar o meu tudo em mim.

Às vezes, sou o tudo e tenho medo de me perder no nada. Às vezes, esse novo mundo que busco me parece mais obscuro do qual vivo.

Estou me vivenciando intensamente, e não tenho pressa; quero chegar à melhor solução. Mas, eu não tenho todo tempo do mundo! O que é tempo? Quanto é muito? Quanto é pouco? Será que o tempo pode me ajudar? Ou só prejudicará? ‘Só o tempo dirá…?’ O tempo está dentro de mim, e em mim parece não ter fim.

Há em mim um silêncio que me intriga. Silêncio: não existe; pois estou sempre escutando outras pessoas distantes de mim, carros, meu coração, minha respiração, estalos noturnos de objetos, muitas coisas. Mas às vezes escuto tudo no barulho também. Eu gosto de escutar. Me conforta, me completa, me faz lembrar que há vida em mim e que há pessoas ao meu redor, ou vida ao meu redor. Eu gosto de viver! Viver é uma caixa de surpresas, apesar de eu ser infinita; eu tenho uma parte finita e quero cuidar dela durante a minha vida.

Se a pessoa está em mim, por que ela não enxerga? Por que não deixo ela me enxergar? Ou por que eu deixo ela me enxergar por completo? Na verdade, qual o porquê dessa minha preocupação? Desilusão? Talvez esse seja meu medo, mas eu quero arriscar.

Insegurança! Indecisão!

Por que ser indecisa? Ser tudo e nada, querer arriscar e ter medo, escuro e claro, antigo e novo? Onde tudo isso vai me levar? Transformar? Por que me relutar na transformação? Ah! Encontrei a minha insegurança! Me transformar, dizer adeus ao meu antigo, perder muito do que eu era e fazia parte de mim. Saber lidar com a perda para poder organizar o que ganho de novo (que é muito maior do que eu era).

Digo eu era porque eu já sofri mudança, estou no processo da transição, no caminho, e vejo tudo escuro. Esse meu escuro infinito busca incessantemente um claro ao fim. Como é cansativo! Como dói! Como mexe com meus sentimentos de uma maneira absurda!

Quero ser eu mesma! Qual a dificuldade para isso?

Nesta imensidão do meu eu me sinto só, mas sei que tenho que estar só para conseguir sair, encontrar uma saída. Ao mesmo tempo me sinto tão preenchida, tão cercada de muita intensidade que não consigo me sentir só.

O nada.

O nada é um tudo, é algo totalmente preenchido para ser um nada. Mas o que seria do tudo sem o nada? O nada é indispensável para conseguir o tudo.

Será que o tudo é tão bom como imagino? Será que conseguirei ser o tudo? Será que deve ser ou tudo ou nada? Será que tem um meio termo? Não gosto de meio termo! Ou é ou não é! Eu quero ser!

Eu sou dona do meu caminho, eu conduzo meus pensamentos e eu quem faço minha história. Tenho responsabilidade por meus atos; no sentido que devo arcar com suas conseqüências e tenho medo de não estar madura suficiente para o tudo. Sei que o tudo não virá se não estiver preparada, afinal, sou eu quem decido. Será que saberei o tempo certo para ganhar algo muito grande que será necessário perder o nada?

O escuro não passa desapercebido pelas pessoas; mas será que significa algo para elas? Eu não passo desapercebida pelas pessoas; mas será que significo algo para elas? Sou muito importante para quem me nota. O que seria das pessoas sem mim e sem o claro? Será que seria tudo muito diferente? Acho que não… Mas também não me importo com as grandes diferenças e sim com as pequenas e significativas!

“Nada do que foi será”: tudo bem. Tudo se transforma; mas o que será, só vai vir a ser porque foi. Devo descobrir o que fui, o que sou para poder compreender o que serei.

Ser escuro e não ser claro, ser claro e não ser escuro, eu sou o ‘não ser’. Não existe o ‘não ser’, porque o ‘não ser’ já é um ser, só que diferente do primeiro.

O meu ser está em constante transformação, então, por que me perturba tanto essa mudança, essa fase de transição que estou vivendo? Será que é só porque agora eu me dou conta? Não acredito nisso.

Ser vazio, ser oco, não ter nada para oferecer é um problema. Tenho sede de imensidão, tenho sede de ser preenchida, de deixar de ser vazio; estou a procura da minha plenitude. Mesmo sendo vazio, pelo menos eu fui, mesmo tendo sido o que fui; aí é que encontro a força para suportar a mudança; porque quero ser diferente do que fui; quero ser o que estou sendo e o que ainda não posso ser.

O que me impede de ser? É porque eu não sei separar o que sou do que tenho! Eu sou  o que sou, não tenho o que sou, nem sou o que tenho, mas o que eu tenho me reprime, e me força a ser o que sou, me impedindo de ser o que quero ser. Fora isso, tenho um desejo interno de ser o que sou, porque sei que o que tenho tem expectativas sobre o meu ser, e eu não quero desapontar!

Será que suportarei? Será que eu seria muito diferente do que sou se não tivesse o que tenho? Não acho possível! Talvez eu sou o que sou e imagino o que seria algo que nunca seria; e coloco a ‘culpa’ no que tenho.

Por que faria isso? Para aliviar o que sou, para o poder ser tranquila .

Acho que é muito fascinante! O que fui eu já perdi, não posso mais sê-lo, mas ao mesmo tempo eu posso ser o que quiser.

Não quero mais ser o escuro e me esconder das pessoas.

Não quero ser mais um vazio estéril, improdutivo, viver como se não tivesse vivido; achar que não produzi, não realizei nada; achar que sou insignificante para os outros. Estou a busca do meu eu, do meu eu que se relaciona, do meu eu brilhante, que faz, que muda, que traz a diferença… Na verdade, acho que já o encontrei, só falta não temer de o ser; libertá-lo e descobri-lo cada vez mais.

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