Vivemos numa sociedade em que os resultados para são todos “para ontem”, e paralelamente, em busca da manutenção da saúde e da beleza, somos estimulados a praticar atividades físicas, o que faz com que as academias e parques estejam sempre cheios de pessoas suando a camisa. Essas duas tendências se juntaram e deram origem a um “movimento” que irei chamar de “no pain, no gain” (sem dor, sem resultados), no qual uma parcela da população entra em uma sedenta busca por um corpo malhado e saudável em pouco tempo, executando cargas altíssimas de treinos físicos sem pensar na qualidade. Entretanto, precisamos ser cautelosos para evitar que essa corrida pelo corpo perfeito não resulte em uma aposentadoria forçada para o sistema musculoesquelético. Portanto, precisamos olhar criticamente para essa frase “no pain, no gain” e entender qual a dor e qual o ganho.
O sistema musculoesquelético depende basicamente de dois tipos de propriedades para gerar movimentos: passivas e ativas. As primeiras são constituídas dos encaixes ósseos das articulações, ligamentos e tendões, e as últimas basicamente de músculos. Dentre essas estruturas, os músculos respondem melhor a sobrecargas, criando uma adaptação estrutural, que é a hipertrofia, mas as outras não reagem na mesma velocidade, e acabam se desgastando com o tempo. Então, quanto mais controlamos nosso corpo ativamente, menor é o risco de um estresse sobre as estruturas passivas e menor é a chance de ocorrer uma lesão. Então a “dor” que podemos sentir durante os exercícios é somente de trabalho muscular e nenhuma outra, e caso contrário, com certeza há algum movimento incorreto ocorrendo.
Para garantir esse controle do corpo, é preciso insistir no alinhamento correto dos segmentos e os músculos precisam estar funcionando o tempo todo para proteger as articulações, o que geralmente é mais difícil de executar, já que assim gastamos mais energia. Mas como saber se estamos conseguindo isso? Uma boa dica prática é: se doeu, está errado. E muitas vezes precisamos aprender a utilizar o nosso corpo de uma forma diferente e não simplesmente fazer um fortalecimento ou alongamento muscular inespecífico, como geralmente é passado para os que reclamam de dor. O sistema motor em geral vai escolher voltar para a mesma estratégia de movimento que está acostumado se não for feito um trabalho específico para essa mudança.
Entretanto, identificar o essa estratégia de movimento e entender como corrigí-la, não é uma tarefa triviais e por isso, profissionais bem qualificados para orientar as atividades físicas são importantes, como fisioterapeutas e profissionais de educação física, que tenham um olhar específico sobre a qualidade do movimento e não apenas a quantidade. Então, que tal trocar o “no pain, no gain” por “no quality work, no gain” (sem trabalho de qualidade, sem resultados)?
Ricky Watari
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