Para falar dos benefícios da psicoterapia iniciarei com um mito grego que, com sua narrativa simbólica, consegue elucidar os conceitos da psique humana. O mito chama-se “Labirinto do Minotauro”.
Havia uma criatura que habitava um labirinto na Ilha de Creta, governada pelo rei Minos, tal figura mitológica chamava-se Minotauro, com cabeça e cauda de touro num corpo de homem. Minotauro foi resultado de uma punição do deus Posídon, pelo descumprimento da promessa do Rei Minos em sacrificar um determinado touro, após se tornar rei. Após vencer e dominar numa guerra os atenienses, o rei de Creta ordenou que fossem enviados todo ano sete rapazes e sete mulheres de Atenas para serem devorados por Minotauro. Após o terceiro ano de sacrifícios, o herói grego Teseu resolveu apresentar-se voluntariamente para ir à Creta matar Minotauro com outras pessoas; ao chegar na ilha conhece Ariadne (filha do rei Minos), a qual se envolve por ele e resolve ajudá-lo, entregando-lhe um novelo de lã para que pudesse marcar o caminho na estrada e não se perder no grandioso e perigoso labirinto. Teseu consegue matar o monstro, usando uma espada mágica, presente de Ariadne, conseguindo ainda salvar alguns atenienses que encontravam-se vivos e retomando o caminho de volta. Ariadne, conforme o prometido, o espera do lado de fora do labirinto.
A partir desta narrativa podemos perceber alguns elementos que nos ajudam a entender a psique humana e o quanto o processo terapêutico pode ser benéfico e libertador. O labirinto pode representar a psique humana, considerando que há uma parte da nossa mente que nos é inconsciente, com tantos cantos escuros e inacessíveis, com curvas e sombras. Faz parte da natureza humana temer o desconhecido, sendo assim muitas vezes acreditamos que nosso inconsciente seja ameaçador e com muitos “monstros”, sendo que muitas vezes não reconhecemos ou admitimos tais fatos e acabamos por ver tais aspectos no nosso exterior, em relação principalmente aos outros, fenômeno este conhecido como projeção. A psicoterapia nos ajuda a encarar nossas projeções como conteúdos próprios e pessoais, e a usá-las como recursos para nosso crescimento e transformação.
O Teseu pode representar nosso Ego, ele quem vai com outras partes suas, combater o monstro devorador, motivado pela indignação em perder tanta gente jovem (que pode ser atrelada à energia consumida para nada). A terapia nos ajuda a matar esses monstros internos, que nos consomem tanta energia, e usar esta energia para a vida.
Podemos refletir sobre como é a vontade e o querer da pessoa que determina a procura por este trabalho, tal motivação pode ser resultado de um sofrimento; falta de vitalidade e energia psíquica; transtornos ou distúrbios psíquicos; prevenção; busca pelo autoconhecimento; dentre outros. A questão é que esta procura parece estar atrelada à vontade de transformação e mudança, gerando uma disposição para enfrentar seus próprios “monstros”. Curiosamente, durante o processo muitas vezes reconhecemos que tais monstros não são tão aterrorizantes quanto fantasiávamos e que podemos adquirir recursos e nos fortalecer para enfrentá-los.
Ariadne pode representar a psicoterapeuta que, do lado de fora (simbolicamente também), o auxilia nesta empreitada, utilizando os instrumentos que possui. Teseu confiou em Ariadne e usando o novelo de lã segue seu caminho, acreditando que ela o espera do lado de fora; fundamental pontuar o quanto o êxito da psicoterapia depende da confiança e empatia entre paciente e psicoterapeuta. É necessário que o paciente confie na ética do profissional para conseguir abrir ao mesmo suas questões mais íntimas, podendo a partir de então viver sua individualidade de uma forma mais pura e fiel à sua essência.
Quando Teseu consegue matar o monstro e sair do labirinto, podemos fazer a leitura de que houve uma transformação, a morte simboliza a transformação; a morte do ego anterior (consumido por medos e inseguranças) e o nascimento de um novo ego (com maior autoestima e autoconfiança).
Gabriela de Faria Rondão
CRP 06/106895
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