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Você é como você dirige?


Você já parou para pensar ou já ouviu falar em algo como: “o que vemos em nosso mundo externo reflete como está o nosso mundo interno”?

Pois bem, acredito que seja válido refletir por um instante em como estão os “seus mundos” no atual momento, levando em consideração que nunca somos os mesmos, pois estamos sempre vivenciando constantes processos de transformação.

Quando se trata do ser humano, dificilmente conseguimos generalizar, já que cada um é de um jeito, tem sua história de vida, seus valores pessoais e sentidos de vida diferentes.  Mas, tentarei fazer algumas analogias sobre o modo como algumas pessoas que conheço dirigem seus carros e suas próprias vidas. Quem sabe essa comparação possa lhe ser familiar também?

Você conhece alguém que, ao dirigir, não utiliza o espelho retrovisor segundo a função para a qual foi projetado? Eu conheci uma pessoa que utilizava esse espelho virado para o rosto dela, porque quando dirigia queria, em alguns momentos, certificar-se de que estava tudo em ordem com sua aparência, se estava bonita. Nesses casos, vale relembrar um pouco o mito de Narciso: de tanto olhar o seu reflexo nas águas do rio e de se admirar por sua beleza, perdeu sua vida. Como será que está o mundo externo e interno dessa pessoa, já que uma de suas maiores preocupações ao dirigir está voltada à sua aparência, em detrimento de sua própria segurança? Ou melhor, a sua segurança é atender padrões de beleza e, a todo o momento, buscar refleti-los?

A utilização de marchas é super simbólica! Quanto tempo você espera para mudar a marcha?  Ou age como aquela pessoa, que espera o carro “gritar por socorro”, “clamar por um pouco mais de espaço” para poder ir adiante, até que, finalmente, lhe venha a brilhante idéia de pisar na embreagem e alterar a velocidade do veículo. Como será que essa pessoa passa por seus processos de transformação? Talvez, ela desfrute o máximo de cada momento e de cada fase em que se encontra, até poder aceitar e viver sua próxima etapa. Será que ela espera os familiares, os amigos, os colegas de trabalho ou o cônjuge pedirem – ou até mesmo implorarem – por mudanças, porque do jeito que está o contexto não a suportam mais? Pessoas assim talvez esperam se encontrar em situações quase que sem saída para só, então, resolverem buscar ajuda ou mudar.

E as pessoas que agem de forma oposta? Ao invés de esperar pelo pedido do motor do carro, da primeira marcha já muda para a terceira, ou quando o farol abre, ela já engata a segunda marcha, impulsionando o carro, para dar mais do que precisa no momento, tudo para antecipar etapas. Não suportaria esperar o carro passar pela primeira ou segunda marcha, isso é pouco, pois ela logo quer a terceira; está sempre correndo! Como está a ansiedade dessa pessoa? Será que tem vivido alguma fase de estresse? Será que, como tudo em sua vida, ela gostaria de antecipar o movimento natural das coisas? Será que viveu adequadamente sua infância e aproveitou sua juventude; ou as responsabilidades e os afazeres desmedidos sempre a sufocaram? Ao forçar o carro dessa forma, repara-se que o próprio motor fica engasgando, para conseguir prover o que o motorista precisa. Como está o corpo e a alma dessa pessoa que visa apenas tirar proveito do máximo de potencialidade que a “máquina” pode oferecer? Será que ela percebe e alimenta sua alma?

Entre essas pessoas, também há aquelas que forçam os limites das regras, por correrem demais, “já conheço todos os radares eletrônicos, diminuo a velocidade do carro apenas para passar por eles; odeio quando as pessoas dirigem na última fileira das rodovias só a 120 km/h e não percebem que eu quero ultrapassar” (sic). Será que essa pessoa também negligencia sua saúde em prol de uma pressa que a atordoa? Será que ela respeita também seus próprios limites e os limites dos outros e da sociedade?

Há também as pessoas que gostam de administrar tudo de forma insistentemente sistemática, bem como a alteração das marchas. “O carro precisa dar o que ele pode oferecer e, até por economia de combustível, não permito que o carro se esforce mais nem menos do que deve” (sic). E se gaba ao dizer que seu carro faz tantos quilômetros por litro, que não há quem dirija melhor que ele! Será que essa pessoa permite que os outros façam alguma coisa por elas, será que sabem delegar tarefas e aceitar que os outros possam atingir os mesmos resultados por meios diferentes, já que considera que o seu jeito de administrar é “o melhor”? Será que ela se permite aprender coisas diferentes com os outros ou a ousar um pouco mais em alguma situação, quebrando alguns paradigmas internos? Permite-se sentir algum prazer na vida, mesmo que isso traga como conseqüência um gasto a mais nas economias do mês?

Ainda, existem pessoas que durante as primeiras marchas conseguem ter uma seqüência ordenada e embalada; mas que de forma alguma cogitam a hipótese de utilizar a quinta marcha. “Engatar a quinta marcha significaria que o carro atingiu o máximo do que pode oferecer e, nesse limite, estaria extrapolando e correndo perigo! O ideal é permanecer na quarta, porque dessa forma, eu sei que ainda posso dar mais em um futuro e estou protegido nesta etapa” (sic). Como essa pessoa lida com os limites? Limites impostos pela sociedade, limites dos outros com os quais se relaciona ou os seus próprios limites? Será que ela é verdadeira consigo e com os outros; ou para não esbarrar em limites – respeitando e supervalorizando-os – acaba por negligenciar, abstendo–se de expor seus pensamentos? Pessoas assim deixam ‘exalam’ insegurança por onde passam.

E como é a alimentação do carro? Para um carro estar bom, basta trocar o óleo, verificar o nível da água e colocar gasolina? Quando se faz apenas isso, ele sobrevive por quanto tempo? E como é a sua alimentação? Como é o carro em seu interior e exterior: limpo ou sujo, bagunçado, com enfeites, aparelhos de som e adesivos? Tudo é detalhe para termos acesso ao “funcionamento” do interior de seus respectivos donos.

Isso me faz refletir que, realmente, por se tratar de um ser humano não há uma cartilha indicando o que se deve fazer em “determinadas situações”. Não há um jeito certo de seguir ou uma única forma adequada e perfeitamente aceita. A pluralidade de potencialidades está dada desde que nascemos e, segundo essas mesmas potencialidades, podemos construir o nosso futuro. Com isso, penso que o ideal é ter uma reflexão constante sobre seu modo de ser. Se você já o provou, já viveu, já aprendeu com o modo antigo de ser, saiba abandoná-lo. Saiba abrir-se para a novidade, para o diferente. Saiba viver a ansiedade de encontrar-se com o desconhecido que o novo sempre traz, pois a novidade e o diferente sempre agregam valor. Acredito que, dessa forma, o caminho de nossa existência será mais pleno e verdadeiro.


Marcela Jacob

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