A falta de água que estamos enfrentando me fez mudar a rotina de banhos, de lavagem de roupa, de cozinha. Mas todo o transtorno que eu achei que teria em relação à falta da água se resumiu a pequenas adaptações no meu dia-a-dia. Sei das diferenças das necessidades de cada um e de forma alguma me considero um exemplo de comportamento, mas essa experiência me promoveu um conhecimento interessante. Muito do que achamos que é indispensável para a nossa sobrevivência, não passa de um conjunto de hábitos, que de tão intrínsecos ao nosso consciente, parecem ser fundamentais em nossa vida.
Transportando a experiência da água para outros aspectos da vida, comecei a refletir se tudo o que eu julgo necessário, é DE FATO necessário. Muito do que temos, muito do que fazemos, muito do que vivemos, vivemos devido a pressões externas, campanhas publicitárias, novelas, filmes, padrões de moda, de comportamento. Grande parte de nossas escolhas são feitas a partir de padrões sociais, estabelecidos por grupos influenciados pelos mesmos meios.
Não consigo viver sem água, mas com certeza consigo viver com menos água, menos comida, menos roupas, menos coisas. Isso me torna mais pobre em relação aos olhos da sociedade? Me torna alternativo? Revoltado? Socialista? Não sei… Mas com certeza me torna mais tranquilo. Essa tranquilidade provavelmente vem do sentimento de que algo em que eu acreditava depender, não me domina. Essa consciência me fez entender um pouco do sentimento de iluminação que um monge tem em um exílio, quando adota um voto de pobreza. Claro que a questão do monge é um extremo da idéia, mas quanto do que compramos não nos aprisiona? Celulares, redes sociais, roupas de marca. Não há nada de errado em tirar proveito de tudo isso, desde que coloquemos nas coisas os seus devidos valores. Mas acredito ser saudável enxergar que tudo isso faz parte do rio que é a vida. O rio traz, o rio leva, o rio traz novamente. O importante é que ele siga correndo. A água flui, segue seu curso. E talvez o objetivo seja viver nesse rio, sem bloquea-lo, e fluir com ele, trabalhar com ele, utilizando-se dele para o sustento, o necessário, aprendendo tanto com as épocas de cheias como com as secas, e utilizar desse rio para o crescimento pessoal.
Numa sociedade tão comercial, acredito que o melhor legado que posso deixar para nossos filhos é tentar ensina-los a serem livres, dentro daquela liberdade que se consegue internamente, através de conquistas muito maiores do que as conquistas materiais.
Roberto Dino
Clínica Vitalidade Integrada
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